SERÁ O FIM DA CICATRIZ?

Os pesquisadores trabalham com afinco para apagar as marcas de machucados e cirurgias. Conheça as novidades que prometem acelerar a recuperação da pele e dar sumiço a essas lembranças antiestéticas.

É inevitável sentir um frio na barriga ao encarar uma sala de cirurgia. A preocupação com o sucesso do procedimento, o medo do bisturi e a aflição da anestesia são recorrentes, mas não estão sozinhos na lista de apreensões que vêm à cabeça. Muitas vezes, o pós-operatório pode deixar sinais que, do ponto de vista estético, incomodam muito. Por isso, buscam-se tratamentos que garantam uma pele sem essas marcas.

Ao que tudo indica, a grande promessa nessa área é o laser infravermelho de baixa intensidade, objeto de estudo do fisioterapeuta Rodrigo Carvalho em seu mestrado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Esse aparelho trabalha com uma energia concentrada mais baixa, que não provoca queimaduras nem lesões”, conta Carvalho. Há uma melhora significativa na aparência e na qualidade da cicatriz, que se torna mais suave e com cor e textura bem próximas às da pele normal. “Trata-se de ótima alternativa para cirurgias de mama, cesarianas e cicatrizes atróficas em geral”, observa. Por cicatrizes atróficas, entenda: aquelas em que há uma depressão e a pele se torna mais fina que o normal, como as que costumam dar as caras em problemas como a acne.

Além da versão infravermelha, outros tipos de laser, chamados de ablativos, despontam entre as opções antimarcas. Como o próprio nome já diz, eles fazem uma pequena raspagem na derme e na epiderme, as camadas mais superficiais da pele. Sua atuação é certeira: despejam uma grande quantidade de energia em pontos determinados. Os raios são convertidos em calor, o que gera uma leve queimadura. “Por meio dessa pequena lesão, o laser remove a pele morta situada em cima da cicatriz e promove a formação de uma nova camada com células jovens”, descreve o cirurgião plástico Alan Landecker, de São Paulo. Essa espécie de troca acontece graças ao estímulo da produção de fibroblastos, células responsáveis pela formação de colágeno, proteína essencial para a formação e renovação do tecido.
“O laser ablativo é um bom recurso contra cicatrizes atróficas”, indica Alan Landecker. Mas é preciso cautela ao optar por esse tratamento. “Ele pode causar efeitos colaterais, como o aparecimento de manchas escuras, além de ser agressivo à pele”, alerta o dermatologista Nuno Osório, de São Paulo. Como saída, os especialistas vêm recorrendo a outro tipo de laser — o fracionado não ablativo. “Atualmente, ele é a grande vedete nas clínicas”, garante a dermatologista Valéria Campos, também da capital paulista.

Capaz de promover uma recuperação mais rápida, esse laser segue o mesmo princípio do ablativo. A diferença é que, aqui, essa energia é fracionada, ou seja, menos concentrada. “É como se, em vez de um choque de 120 volts, recebêssemos três pequenos choques de 40. O dano, no final, é menos intenso”, compara o cirurgião plástico Fábio Coutinho, do Rio de Janeiro. É a técnica ideal quando o objetivo é dar uniformidade à pele.

Caso a intenção seja suavizar manchas e vasos, uma boa — e econômica — alternativa é a luz pulsada. “Ela trabalha com uma luz não contínua, invisível ao olho humano, e atua positivamente sobre o processo de coloração da cicatriz”, analisa o médico Rodrigo Carvalho. “A técnica também pode ser usada em cicatrizes hipertróficas ou queloides”, diz o dermatologista Beni Grinblat, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Não basta tecnologia, antes mesmo de apelar para qualquer um desses tratamentos, é preciso fazer de tudo, claro, para que o resultado da cicatriz fique discreto. A primeira atitude é garantir a hidratação da pele. “Durante um mês após o corte, a pessoa deve passar hidratantes de três a quatro vezes por dia no local, massageando sempre”, orienta Alan Landecker. Colocar uma placa de silicone em cima do corte durante um ou dois meses também ajuda a estimular o amadurecimento da cicatriz.

Outra medida é evitar movimentos bruscos para que a área não fique tensionada — é que a tensão provoca o alargamento do tecido fibroso. Em alguns casos, o paciente é orientado até mesmo a fazer uma pausa nas atividades físicas. “O tempo de repouso varia, mas, geralmente, é em torno de um mês”, calcula Coutinho. Áreas como costas, pernas, ombros, joelho, cotovelo, tronco e a região entre as mamas exigem maior atenção. “O risco de tensionar a pele nessas regiões é bem maior”, afirma Luis Fernando Tovo, dermatologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Também é fundamental evitar o sol por pelo menos dois meses. “As marcas roxas que se formam logo após a cirurgia são sinal de deposição de pigmento sanguíneo entre as células da pele. Mas a tendência é que elas clareiem”, diz Coutinho. No entanto, se houver um contato precoce com os raios solares, esses pigmentos sanguíneos irão estimular os melanócitos — células que produzem a melanina, que colore a pele —, resultando no escurecimento definitivo da marca do corte.

Por fim, lembre-se de que o cigarro é outro inimigo da cicatrização, uma vez que a nicotina compromete a circulação do sangue. “E isso retarda a reparação da pele”, alerta Coutinho. Esses cuidados, combinados a uma boa técnica cirúrgica e a um cirurgião experiente, compõem a fórmula certa para evitar uma marca no futuro. “Apesar de ser impossível eliminarmos as cicatrizes por completo, os métodos de que dispomos hoje, tanto de prevenção quanto de tratamento, são capazes de torná-las praticamente imperceptíveis”, assegura o dermatologista Beni Grinblat.


Fonte: Revista Saúde É Vital

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